MANOS
A investigação fornece uma análise abrangente dos discursos, contextos socioeconómicos, dinâmicas sociais e mecanismos tecnológicos pelos quais rapazes e jovens se radicalizam em grupos sexistas, misóginos e antifeministas online através do estudo comparativo dos contextos português e irlandês entre 2018 e 2028.
Partindo da ideia segundo a qual os trajetos de radicalização começam com o consumo de conteúdos criados em ambientes frequentados por qualquer utilizador da internet, as ditas plataformas mainstream, como o TikTok, Instagram e YouTube; e fazendo uso de uma abordagem interdisciplinar que combina estudos de género com estudos críticos dos media e estudos sobre processos de radicalização, o projeto de investigação MANOS analisa as condições, as motivações e os mecanismos que possibilitam a adesão de jovens rapazes a discursos misóginos e a comunidades masculinistas na Internet — que não se restringem ao conhecidos PickUp Artists, MRA, MGTOW e InCels — contribuindo para colmatar a lacuna teórica e empírica existente tanto na investigação académica sobre os caminhos para a radicalização dentro do supremacismo masculinista, no geral, e no estudo sobre a manosfera em Portugal, em particular.
Tem ao mesmo tempo a preocupação de explorar como, em que medida e por que razão a adesão a discursos e comunidades masculinistas online é alimentada por várias formas de descontentamento e ressentimento masculino a partir de um ponto de vista que abrange a subjetividade masculina em diversos contextos culturais e socioeconómicos. Dito isto, o projeto tem também uma finalidade social que é contribuir para a construção de uma sociedade mais igualitária através da sensibilização da comunidade académica, da sociedade civil e das entidades políticas sobre o problema da socialização masculinista de crianças e jovens. Sublinhando, a necessidade de promover programas sociais possam lidar com o problema da radicalização e de guiões escolares que capacitem educadores a identificar e responder a rapazes e jovens que poderão ser alvos fáceis.
Principais Objetivos
O projeto MANOS tem por base um quadro teórico e empírico que contempla não apenas dimensões materiais, tanto conjunturais como supra e infraestruturais, mas também dimensões discursivas, culturais e políticas, que incluem subjetividades e emoções moldadas a partir de racionalidades produzidas no cruzamento entre as plataformas digitais e do contexto ideológico neoliberal que as informa. Parte-se da hipótese segundo a qual, embora os discursos misóginos façam parte da estrutura social de ambos os países e tenham sido transmitidas intergeracionalmente através dos vários espaços de socialização como a família ou a escola, nos últimos anos têm sido exacerbadas, moldadas e amplificadas pelas novas potencialidade (affordances) das plataformas digitais —e.g., fóruns, redes sociais e apps de mensagens — construídas a partir de dinâmicas económicas e racionalidades neoliberais e que são frequentadas por jovens rapazes altamente receptivos aos discursos que nelas circulam e às suas dinâmicas sociais.
Assim, os principais objetivos da investigação são:
- Investigar o desenvolvimento de formações supremacistas masculinas, coletivamente referidas como manosfera, no contexto português e irlandês entre 2015 e 2025, o que inclui examinar o surgimento, o crescimento e as características dessas formações;
- Compreender como, em que medida e por que razão estas formações da manosfera ressoam com várias formas de descontentamento masculino em diversos contextos culturais e socioeconómicos, com um foco específico nas perspetivas e experiências dos jovens do sexo masculino;
- Utilizar os resultados da investigação para informar o desenvolvimento de estratégias e políticas públicas destinadas a prevenir a doutrinação em espaços da manosfera e a prestar apoio a jovens radicalizados ou em vias de o ser.
Investigadora

Veronica Ferreira é investigadora de doutoramento no Institute for Research on Genders and Sexualities da Dublin City University (DCU-IRGS). Atualmente, trabalha como investigadora de pós-doutoramento no projeto «MANOS. The MANOSphere Pill”, financiado pela Bolsa Europeia de Pós-Doutoramento Marie Skłodowska-Curie (MSCA) (2025-2028). Os seus interesses de investigação atuais centram-se nas representações dos meios de comunicação social; estudos de género; estudos descoloniais; discursos sobre violência; análise crítica do discurso; estudos críticos da Internet; e políticas educativas.
Orientadora
Debbie Ging é professora de Digital Media e Género na Escola de Comunicação da Dublin City University, na Irlanda. Ela ensina e pesquisa sobre género, sexualidade e digital media, com foco no ódio digital, na política antifeminista online dos direitos dos homens, na subcultura InCel e na radicalização de rapazes e homens em ideologias supremacistas masculinas. A sua pesquisa também aborda as experiências dos jovens com abuso sexual e baseado numa abordagem de género online e intervenções educacionais para lidar com essa questão.

Orientadora em Portugal

Sofia José Santos é Investigadora Associada do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Professora Auxiliar de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC). Tem desenvolvido investigação a partir de uma perspetiva crítica sobre a interseção entre a Internet e a tecnopolítica, bem como os meios de comunicação social e as masculinidades, entre outros. O seu trabalho caracteriza-se também pela participação ativa em redes internacionais, como a MenCare e a MenEngage, entre outras, e pela colaboração com ONG globais, incluindo a Equimundo.
